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Dicas e respostas sobre velas – Ceras de soja, coco, abelha e mais

Desde que postei esta receita, recebo inúmeras perguntas sobre a confecção de velas. Seja por mensagem aqui no site, instagram ou por e-mail. Por isso, resolvi criar este post, respondendo algumas dúvidas e soluções pra você que as tem. (Se sua dúvida não está abaixo, por favor, deixe uma mensagem neste post que eu logo atualizo).

Para mais questões, leia também ou me siga no instagram:
Dicas e respostas sobre velas – Guia sobre “problemas” com cera de soja
Velas com óleo essencial, sim ou não?
Qual pavio usar na sua vela com cera natural


Tipos de cera/parafina

Parafina: $ Super barata. Cor branca. Odor suave. Sólida e dura em temperatura ambiente. Emoliência máxima, de 0,8 á 4%. Ponto de fusão de 51,4 á 66 graus Celsius (quanto maior a % de gordura, ou seja quanto mais emoliente mais baixo é o ponto de fusão). Ponto de fulgor á 199 °C. Validade de 36 meses. Não solúvel em água. Bio acumulativa, derivada do petróleo. Pode ser encontrada na versão pó, lentilha ou barra.

Parafina Plus: É a parafina comum ao qual foi adicionado cera micro ou estearina na composição. $ Super barata. Cor branca. Odor suave. Sólida e dura em temperatura ambiente. Ponto de fusão de 61,4 graus Celsius. Ponto de fulgor á 244°C. Validade de 36 meses. Não solúvel em água. Bio acumulativa.

Parafina em gel: $$$ Preço médio. Derivado do petróleo. Aparência cristalina. É pouco resistente ao calor e se deforma com facilidade. Começa a amolecer aos 40°C. Validade de 12 meses. Tem queima lenta de 4 á 10 vezes menor que a parafina comum.
Base Gel Cristal: Mais rígida, permitindo o preparo de pequenas velas desenformadas.
Base Gel Plus: Mole, só pode ser produzida em recipientes.
É necessário usar termômetro para manipular esta parafina. Acima dos 100 graus Celsius ela pega fogo e solta muito vapor/fumaça. É altamente inflamável. Algumas essências podem turvar a parafina em gel, então só use depois de testar.

Parafina Líquida: Usada na fabricação de cosméticos, como cremes, máscaras e etc. Sabe a famosa vaselina? Então, ela nada mais é do que parafina líquida. É uma substância apolar, considerada não tóxica, porém há inúmeras controvérsias sobre o seu uso, já que se trata de um produto petrolato.

Ozoquerita: Origem mineral, pode ser branca ou amarelada. Tem ponto de fusão de 58 á 100 graus Celsius e pode ser viscosa ou sólida. É usada em cosméticos para “endurecer” e dar brilho aos produtos.

Cera de abelha (100% pura): $$$$$ Preço altíssimo. Odor levemente adocicado que lembra o mel. Cor amarelada ou bege médio. Dura. Ponto de fusão de 63 á 64 graus Celsius, amolecendo a partir dos 35°. Densidade 0,950 a 0,960. Esta é a melhor cera entre todas. Origem animal. Não é vegana. Pode ser misturada à outras ceras e aditivos. Não solúvel em água. Não emite gases tóxicos durante a queima. A validade da cera de abelha pura é indeterminada, ou seja; não estraga e nem fica rançosa. Porém, se misturada com essências e outros óleos, isso pode mudar.

Cera de soja (100% pura): $$$$ Preço alto. Sem odor. Cor branca ou creme. Ponto de fusão de 50 á 55 graus Celsius. Feito á partir do óleo de soja hidrogenado. Origem vegetal. Vegana.

Cera de soja Mix, (mistura de 50% parafina com 50% ceras vegetais): $$ Preço baixo. Odor leve de parafina. Cor branca. Acabamento liso. Ponto de fusão de 53 á 58 graus Celsius. Bio acumulativa. Validade de 36 meses. Não solúvel em água.

Cera de arroz (100% pura): $$$ Preço médio para alto. Branca ou levemente amarelada. Ponto de fusão de 77 á 85 graus Celsius. (Ótima substituta para cera de carnaúba). Excelente absorção na pele e alto poder hidratante. Não emite gases tóxicos durante a queima. Compatível com a maioria das ceras vegetais e minerais, bem como com óleos vegetais, minerais e petrolatos.

Cera de carnaúba (100% pura): $$$ Preço médio para alto. Odor levemente amadeirado. T1, cor amarelo claro; T2, amarelo escuro; T3, bege escuro; T4 esverdeada ou marrom, (a cor varia de acordo com o processo de extração, quanto mais refinado, mais clara será a cor). Provem da palmeira Copernicia prunifera. Ponto de fusão de 78 á 83 graus Celsius. Ponto de fulgor á 282°C. Duríssima. Não poluente e não bioacumulativa. Validade de 36 á 60 meses.

Cera de palma (100% pura): $$$ Preço médio para alto. Branca ou levemente amarelada. Ponto de fusão de 57 á 59 graus Celsius. Não emite gases tóxicos durante a queima. Compatível com a maioria das ceras vegetais e minerais, bem como com óleos vegetais, minerais e petrolatos. Proveniente da palmeira Elaeis (Dendê). **(Há uma questão ética quanto ao uso dessa cera, apesar de ser um produto vegetal, a cera de palma levanta vários questionamentos quanto ao desmatamento de grandes áreas que desequilibram a flora e fauna de vários ecosistemas. Como a palmeira é um produto muito rentável, há exploração excessiva durante sua produção. procure por ceras, certificadas como eco friendly).

Cera de coco (gordura hidrogenada 100% pura): $$$$ Preço alto. Odor leve e adocicado. Cor branca. Ponto de fusão á 35 graus Celsius. Queima limpa e sem cheiro. Não emite gases tóxicos durante a queima. Origem vegetal. Vegana.

Cera de coco T2: $$$ Preço médio para alto. Esta é uma cera mista, há em sua composição; cera de arroz, cera de palma e cera de coco, respectivamente. Odor leve e adocicado. Cor branca. Ponto de fusão á 45~49 graus Celsius,  (depende da composição). Queima limpa e sem cheiro. Não emite gases tóxicos durante a queima. Origem vegetal porém, há uma questão ética, pois contém cera de palma.

Cera de candelila: $$$ Preço médio para alto. Amarelada e bege escuro. Derivada de um arbusto Mexicano chamado Candelilha. Ponto de fusão de 68,5 á 72,5 graus Celsius. Ponto de fulgor á 240°C. (Muito usada como alternativa vegana à cera de abelha, pois contém propriedades parecidas). Solúvel em álcool, insolúvel em água. Validade de 12 à 24 meses.

Cera Éster – Sem referência de preço. Derivada de matérias primas de origem vegetal ou semissintética. Ponto de fusão de 66 á 90 graus Celsius. (Substituta para a cera de carnaúba, abelha ou candelila, pois usa matérias primas de fonte renovável). *Procure pelos fabricantes que marcam seus produtos com os selos ECO e de sustentabilidade.

Cera do Japão, Mokurō – Sem referência de preço. Derivada de uma árvore da família do arbusto sumagre. Subproduto da fabricação da laca. Cor amarelo claro. Odor levemente rançoso. Ponto de fusão de 45 à 53 graus Celsius.

Ps.: Essas são as mais comuns e usadas, mas existem inúmeras outras ceras.

Toda cera vegetal e a parafina devem ser aquecidas em uma temperatura máxima de 60~70°C. Pois pode sofrer alterações de coloração, cheiro e aspecto se derretidas em temperaturas superiores a 70°C.

Porém, para se obter uma vela com aspecto liso e brilhante, a parafina deve estar em uma temperatura entre 75°C e 100°C. Se o aspecto desejado for fosco, a temperatura ideal é de 40°C á 60°C. Mas saiba que ela poderá sofrer alterações na cor. E esta técnica não serve para ceras vegetais.

Toda cera vegetal pura, terá um acabamento opaco ou pouquíssimo brilhante. Se você desejar um acabamento brilhante e “plastificado” use então parafina derivada do petróleo.

Todas as ceras e parafinas podem ser derretidas quantas vezes for necessário, desde que respeitado o ponto de fusão de cada uma.

Saiba: Quanto mais natural for a cera, menos “perfeita” ela será. Ceras naturais são desiguais, são granulosas e muitas são quebradiças. Saiba que perfeição não existe. Elas são instáveis, racham com facilidade, mancham, mas essas são características de uma cera NATURAL e não um defeito.


Termos

Emoliente: Que tem a propriedade de amolecer; hidratada/hidratante.

Ponto de fusão: Designa a temperatura a qual uma substância passa do estado sólido ao estado líquido.

Ponto de fulgor ou ponto de inflamação: É a temperatura mínima suficiente para algo se tornar inflamável, ou seja, entrar em combustão.

Foto-sensíveis: São os ingredientes que escurecem, que mudam de cor se expostos a luz, tanto solar quanto artificial. É muito comum acontecer com as essências e os extratos. E não tem como corrigir. Isso é uma característica dos produtos que possuem derivados da baunilha na composição. (Essências frutadas e doces são as principais).

Hidrocarbonetos: Na química é um composto constituído por átomos de carbono e de hidrogênio, que ao se juntar com oxigênio, azoto ou nitrogênio e enxofre,  oxidam-se e liberam calor. Toda vela possuí hidrocarbonetos diferentes, uns mais inflamáveis e outros menos. Isso não só determina a queima da cera, como a duração da vela.

Bio acumulativo: É quando um composto químico fica acumulado ou tem poder de se acumular em um organismo.
Ex: Uma vela feita de derivados do petróleo, está repleta de componentes químicos provenientes do mesmo, neste caso, quando uma vela destas é acesa, libera gases tóxicos e nocivos ao meio ambiente.

Eco-friendly: Termo em inglês que se refere a algo que vem de uma cadeia que não cause danos e/ou impactos socio e ambientais.

Tempo de cura: Quando derretemos algumas ceras e as misturamos com outros óleos, estes produtos juntos, depois de resfriados, levam um tempo para se fundirem corretamente e formarem “cristais” sólidos.

A cura é importante para estabilizar e garantir a durabilidade da vela.
Antes de acender uma vela, é necessário que ela “descanse” por pelo menos 17~20 horas. Isso garante um produto estável, de belo acabamento e com queima uniforme.


Aditivos

Óleo de coco/damasco/amêndoas, uva, algodão, abacate, ou qualquer outra fruta e castanha: Com odor característico e adocicado. Cor amarelada ou amarronzada. Preço médio para alto. 100% vegetal e vegano. Alguns são fotossensíveis.

*A densidade do óleo (que é líquido em temperatura ambiente) é de ~ 900g/L, sendo: 1L de óleo pesam 900 gramas. Para a conta ficar mais fácil, na hora de fazer a vela, podemos arredondar para 1000g/L, (que é aproximadamente a densidade da água), pois na vela essa diferença não muda muito o resultado final. Mas se você quiser ser precisa, te indico seguir à risca a medida de 900g/L.

Gordura vegetal culinária: Sem cheiro. Cor branca. Muito barata. Feita de: Óleos vegetais hidrogenados e antioxidantes, com BHT e ácido cítrico.
O hidrogenado, significa que passou por um processo enorme de hidrogenação em condições de alta pressão e temperatura, que torna a gordura líquida em gordura sólida.
O BHT ou di-terc-butil metil fenol ou hidroxitolueno butilado, é um aditivo alimentar e conservante, resumindo, ele faz com que o alimento não estrague rápido. Há estudos que comprovam que em algumas pessoas há dificuldade de metabolização do BHT pelo organismo, e dúvidas a respeito de ser ou não cancerígeno.

Nota pessoal: Dos citados acima eu particularmente não usaria a gordura vegetal. Apesar de ser muito barata e de fácil acesso.

Se misturarmos na parafina ou na cera algumas gorduras, como; coco, damasco, cacau e outras, obtemos uma vela “menos dura”, suavizamos a aparência, deixando com menos imperfeições e “*fixamos a essência”, mas ao mesmo tempo a parafina derreterá/amolecerá mais rápido e dependendo da proporção entre parafina e gordura, teremos uma queima mais rápida. Mas vale lembrar que isso só serve para velas que não serão desmoldadas, pois quando acesas, elas se deformam e ficam líquidas muito rapidamente.

*Não existe fixador de essência, o que acontece é: Velas mais emolientes, “liberam” mais perfume. O óleo faz com que a essência que “grudou” nos cristais da cera, acabe exalando mais durante a queima, pois o óleo baixa o ponto de fusão da cera e acaba amolecendo a vela em uma temperatura mais baixa. Isso faz com que a gente tenha a percepção do perfume logo no início do derretimento da cera.

Quanto a quantidade de óleo de coco x quantidade de cera, fica difícil de passar uma medida exata, pois cada cera tem uma composição diferente e cada mistura proporcionará um tipo diferente de vela.
Eu sugiro sempre usar 1/3 de óleo de coco e 2/3 de cera para velas feitas em copos e que não serão desenformadas. Mas vale ir testando. Pois as vezes, essa proporção exala bastante o perfume da vela, mas ao mesmo tempo, faz com que ela dure menos e queime muito mais rápido.
A cera de abelha, por exemplo, é super resistente e queima muito mais devagar do que a cera de soja. Outro exemplo é a parafina derivada do petróleo, ela é super dura e queima bem mais devagar.

Lanolina: É uma substância untuosa extraída da lã das ovelhas, com cheiro leve porém característico do sebo e de cor amarelada/amarronzada. É super hidratante e muito usada em cosméticos, inclusive em velas para massagem.

Estearina: O ácido esteárico, é um derivado tanto animal, quanto vegetal, (sendo muito mais comum, a sua produção a partir dos animais), ele é resultado da saponificação de óleos e gorduras. E tem a função de deixar a vela com mais brilho e de fácil desmolde, (fazendo com que a vela se contraía ao solidificar).
Exemplos de onde se é extraída a estearina: Manteiga de leite e sebo ou óleo de amêndoas ou azeite. Ponto de fusão á 55°C. Usar no máximo 5%, ou seja; 50 gramas de estearina para cada 1 k de parafina/cera.

Cera micro: É um elemento nobre da parafina, reduz imperfeições, traz brilho, translucidez e rigidez à vela pronta. Usar no máximo 5%, ou seja; 50 gramas de cera micro para cada 1 k de parafina. É bio acumulativo.

Corantes: Todos os corantes precisam ser de base oleosa. Já que tanto as ceras quanto a parafina são lipossolúveis e não se misturam em água. Só adicione os pigmentos com a cera completamente derretida. Para saber se o corante é vegano, é preciso conhecer sua composição.

Anilina em pó: É um corante altamente potente e de cores fortes, porém por ser em pó, pode se tornar difícil de misturar, causando manchas. A anilina líquida comestível e solúvel em água não serve para velas. 

Corante líquido: Facilmente encontrado em qualquer loja para cosméticos ou fabricação de velas artesanais. Ele já vem diluído em óleo e se mistura rapidamente à parafina/cera.

Não dá para saber qual a cor do seu produto final apenas olhando a embalagem do corante. Derreta a cera/parafina e vá adicionando o corante aos poucos, pingue algumas gotas numa superfície e deixe esfriar.  (Só dá para ter certeza da cor final da vela, depois que ela esfria e endurece).

Essências: Todas as essências precisam ser de base oleosa. As mais comuns e consequentemente mais baratas, são produtos sintéticos que imitam os aromas naturais das flores, frutas, glândulas e/ou especiarias, e que são misturadas à óleos vegetais. (O maior e mais comum exemplo de uma essência sintética, é a de baunilha, que é feita a partir de cascas de madeira e não da fava natural proveniente da orquídea baunilha). Já as essências mais caras, são parte de óleo essencial puro misturados aos óleos vegetais. Essas são mais complexas e possuem um perfume “envolvente”. (Ps. Não confundir com óleo essencial, este sim é puro e contém propriedades medicinais).

Geralmente nas essências os produtores usam veículos bem baratos, como qualquer óleo vegetal que seja produzido em abundância, (cousa, milho, girassol), então é bem provável que as essências oleosas sejam nestas bases que mencionai. Para ter certeza, pergunte ao seu fornecedor. Para saber se é vegana, é preciso conhecer sua composição.

Estes tipos de essências não podem ser usadas na aromaterapia.

Quanto de essência usar: A quantidade dependerá da concentração da essência. Quanto mais concentrado o produto, menor o número de gotas, mas geralmente para cada 500g de cera derretida, usa-se 20ml (para essências fortes) e 40ml (para essências suaves).
Mas é importante só adicionar a essência quando a cera estiver morna, se você acrescentar com ela muito quente, pode acontecer da fragrância ficar muito fraca, o perfume vai evaporar e perderá sua propriedade. Porém, como a essência é oleosa, você tem que lembrar de mudar a proporção de óleo/gordura caso usar alguma na confecção das suas velas.

Ps.: Algumas marcas de essência sugerem que se use 100ml para cada kg de parafina, mas lembre-se, quanto mais oleosa for sua vela, menos essência você deverá usar.

Pavios: Se você comprou um pavio banhado pronto, saiba que este produto foi banhado com parafina que tem todas as “características” que escrevi acima. Então se deseja um fio vegano e eco friendly, você precisa fazer seus próprio pavios; basta banhar um fio de algodão trançado ou um barbante de algodão na cera que deseja usar e deixar secar.

O fio de algodão trançado, é o melhor, tem uma chama mais uniforme e faz com que a cera escoe até a sua ponta criando uma boa combustão.

Já o barbante de algodão, não absorve a cera perfeitamente, tendo uma chama bem inferior.

Em ambos, quanto mais grosso for o pavio, mais rápido a vela irá queimar.

Ps.: Teste de pavio, incrível e muito detalhado para velas com cera de abelha. Veja outras dicas aqui.

Saiba que você não precisa banhar o pavio. O pavio já ficará em contato com a cera durante a queima da vela, então não há necessidade de banhá-lo com antecedência. (Mas lembre-se, o fio de algodão está cheio de ar, e quando o usamos e ele fica em contato com a cera derretida e que acabou de ser vertida nos copos, há troca desse oxigênio pela cera usada. Esse oxigênio tenta sair pela parte mais frágil da vela, (que é o centro e a superfície da mesma), sendo assim, se sua cera esfriar muito rapidamente, pode ser que algumas bolinhas de ar fiquem presas ao redor do pavio.


Possíveis problemas e como evitá-los (ou resolver)

Vela gordurosa e/ou muito mole: Excesso de óleo/gordura. Diminua a quantidade de óleo na confecção da sua vela.

Vela com bolhas de ar: Você despejou a cera muito rápido, muito do alto ou então bateu em excesso na hora de misturar os demais componentes na cera derretida.

Vela rachada: Falta de gordura ou choque térmico. Velas com estearina em excesso, cera de soja ou com baixo teor de gordura tendem a ser mais duras e consequentemente mais secas. Despejar cera quente em pote/molde muito frio também causa rachaduras. A cera quando está esfriando e endurecendo, se retrai, logo, se sua composição não estiver equilibrada, ela irá rachar.

Confeccionar suas velas num dia frio, também aumenta as chances da vela rachar.

Como corrigir: Use pelo menos 10% de óleo na confecção das suas velas feitas com cera vegetal. Evite confeccionar velas quando o dia estiver muito frio. Não coloque seus potes e/ou moldes em superficies frias. Não despeje a cera quente nos potes gelados. Nunca leve-as para solidificar na geladeira ou congelador.

Vela com depressão no centro: É normal o centro afundar, isso é conseqüência da contração da parafina ao se resfriar.

Como corrigir: Preencha o buraco com mais cera. Mas não deixe a mistura ultrapassar a altura da vela, pois ao secar vai ficar aparecendo.
Como evitar: Despeje somente cera morna no molde ou pote da sua vela, isso diminui o efeito da retração, mas não acaba com ele.

Vela suada: Provavelmente há muita gordura ou água na sua mistura de cera, logo, esse líquido pode começar a se separar e formar pequenas gotinhas na vela. Mesmo quando a vela não está acesa essa aparência de suada pode aparecer, principalmente se o dia estiver muito quente. Na química, este processo é chamado de Syneresis.

Vela rançosa: Ceras são basicamente “gorduras solidificadas”, e quanto mais natural e vegetal for o produto, menor é sua validade. Como qualquer outro óleo/gordura, com o tempo e se armazenada de forma inapropriada ela se estraga e fica rançosa.

Cheiro desagradável: Provavelmente sua cera vegetal estragou e se tornou rançosa. Não use e jogue fora. Ceras vegetais aquecidas por muito tempo ou derretidas em temperatura superior á 70 graus também sofrem alteração no cheiro. Nunca deixa sua cera ferver. (Sabe quando dizem que azeite aquecido em excesso se torna saturado? Então, acontece um processo parecido com as ceras e parafinas).

Cheiro fraco: Você encheu de essência mas mesmo assim suas velas ficaram pouco perfumadas? Provavelmente você adicionou a essência na cera muito quente e isso fez com que parte dela evaporasse e perdesse sua propriedade. Da próxima vez, adicione na cera morna.

Outra dica: Com o tempo o perfume da sua vela não acesa vai saindo, por isso, embale-a para armazenar ou tampe os recipientes em que elas se encontram.

Leia: Como criar um perfume intenso e duradouro para sua vela de cera vegetal

Quantidade ideal: A quantidade dependerá da concentração da essência. Quanto mais concentrado o produto, menor o número de gotas, mas geralmente para cada 500g de cera derretida, usa-se 20ml (para essências fortes) e 40ml (para essências suaves).

Vela com baixa duração e que queima muito rápido: Cada cera contém hidrocarbonetos diferentes, uns mais inflamáveis e outros menos, isso determina não só a qualidade da vela como também sua duração. Por isso se você quer uma vela que demore muito para queimar, eu sugiro que use cera de abelha pura ou parafina.

Você pode também usar de 5 á 10% de Cera-Micro/Parafina Macro para cada 1kg de cera. Ela serve para dar mais rigidez e brilho a vela, (mas lembre-se que se você quer fazer uma vela vegetal não poluente e vegana, então não pode usar cera micro, ela e a parafina são derivadas do petróleo).

Tem que lembrar também que, quanto mais óleo for usado em proporção com a cera/parafina, mais forte ficará a essência, porém mais rápido o pavio irá queimar, e o desempenho da vela será menor.

O tipo e tamanho do pavio também interfere diretamente na duração da queima.

Quanto mais grosso for o pavio, mais cera derretida ele irá chupar, maior será a chama e mais rápido a vela vai queimar. (Leia sobre a chama de um pavio aqui e aqui).

Existe: Pavios redondos e achatados, isso também produz diferença na chama durante a queima.

Pavio redondo: Produz chama alta, gerando mais calor e oscila mais.
Pavio chato: Aquecimento menor, com chama uniforme oscilando menos.

A escolha do pavio está diretamente ligada na função que terá sua vela: Iluminar, enfeitar, perfumar ou todas as três opções.

Vela acesa que só derrete no meio: Isso significa que o pavio é muito fino e que o fogo que ele produz não faz calor suficiente para derreter uniformemente a cera.

Como corrigir: Opção 1: Acrescente mais pavios pela vela ou use um pavio mais grosso.
Opção 2: Use um molde com diâmetro menor e misture cerca de 20% de óleo no total da sua cera ao confeccionar a vela, assim, você baixa o ponto de fusão das ceras e a queima ficará mais uniforme, porém, será mais rápida.

Vela no vidro quando acesa fica cheia de grumos e pedaços: Se quando ela está acesa fica com partes super líquidas e com pedaços sólidos que não derretem, pode significar componentes pouco misturados na hora da confecção ou mistura de ceras e parafinas incompatíveis com o ponto de fusão.

Vela que mudou de cor, que ficou amarelada, esverdeada ou rosada depois de um tempo: As ceras só mudam de cor se forem aquecidas em excesso, (acima dos 60 ou 70 graus), ou se você tiver misturado outros aditivos juntos. Algumas essências por exemplo, são foto-sensíveis, (são os ingredientes que escurecem), que mudam de cor se expostos a luz, tanto solar quanto artificial. É muito comum acontecer com as essências e os extratos. E não tem como corrigir.


Dúvidas gerais

Como colocar a validade no produto?

Como regra, todos os produtos artesanais, depois de confeccionados devem ter uma validade máxima de 6 á 12 meses, se armazenado nas condições corretas, (longe do calor e da luz), e sendo confeccionados com o uso de luvas, touca e máscara.

Outro modo de medir a validade, é se baseando na validade do produto que você usou, (que se encontra na embalagem do seu fornecedor). Se você usou três produtos todos com a validade diferente, o que vai valer é o que estiver com a data mais próxima, ex.:

Cera de abelha com validade para 23/04/2025
Essência com validade para 09/12/2021
Corante com validade para 11/07/2024

Logo, a validade do seu produto deverá ser para 2021.

Posso fazer velas de massagens com a cera mix de soja ou parafina?

A cera mix de soja disponível no mercado Brasileiro possui de 20% à 50% de parafina que é um derivado do petróleo, totalmente bioacumulativo: Ou seja, o composto químico presente na parafina, irá se acumular na pele/organismo e a queima pode emitir gases poluentes, mesmo que num grau mínimo. Então eu nunca indicaria esses produtos para este fim. Já a cera de soja importada, que é 100% soja pode muito bem ser usada para confecção de velas de massagem, mas sempre sendo misturada com outros óleos essenciais. Qualquer outra cera natural com ponto de fusão abaixo de 55°C também se prestam muito bem para esta finalidade.

A cera de arroz também é um excelente produto para confecção de velas de massagem, porém seu ponto de fusão é extremamente alto, por isso ela deve ser muito bem misturada à outros óleos.

Minha vela quando acesa solta fumaça preta, onde estou errando? 

Fumaça preta, pode significar queima de agentes poluentes, como: Tolueno, benzeno ou chumbo. Eu sugiro que você faça seus próprios pavios.
Compre barbante de algodão puro, mergulhe-os na cera derretida, deixe secar e use normalmente.

Além disso, a ponta do pavio não pode passar de 0,5cm. (Evitando assim, uma combustão incompleta).

A cera pura, é completamente sólida e dura, logo quando misturada à óleos insaturados, (que são líquidos em temperatura ambiente), a vela fica mais macia e não queima a temperaturas tão altas. Quanto menor a temperatura de queima da vela, mais rápido ela será consumida e mais fuligem ela irá produzir.

Posso usar óleos essenciais e extratos no lugar da essência?

Alguns óleos essenciais são bem mais fracos no perfume do que as essências (pois muitos não são puros e foram diluídos em outros óleos), já outros, são bem mais intensos na fragrância, mas todos eles perdem sua função terapêutica se adicionados na cera muito quente, ou se aquecidos acima dos 55°C. Além de serem muito caros. Então eu não vejo sentido em usá-los na confecção de velas com ponto de fusão alto, principalmente se a vela for de parafina. Mas se mesmo assim, você desejar usá-los, a proporção deve ser o dobro da de essência (para óleos com cheiro fraco) e igual a da essência, (para óleos com cheiro forte), porém, como eles são oleosos, você tem que lembrar de mudar a proporção de óleo/gordura caso use alguma na confecção das suas velas. (Link muito útil sobre OEs). (Leia aqui também).

Como saber a composição exata da cera que meu fornecedor está me vendendo?

Infelizmente não há nenhum método caseiro para descobrir a composição da cera. A única maneira de ter certeza, é mandando seu produto para análise em laboratório. Este processo é possível, mas não é barato, (principalmente se você não é um grande produtor de velas). Outro jeito de tentar descobrir, é pedindo a FISPQ – Ficha de Informações de Segurança de Produto Químico e um PDF da Especificação de Produto do fabricante da cera. Exija o laudo do produto com seu fornecedor.

Usar ceras em barra, escamas ou em lentilha?

Eu particularmente prefiro as ceras em barra, confio mais neste tipo de produto. Acho mais fáceis de armazenar e de conservar.

Já as ceras em lentilha ou escamas são mais fáceis de derreter.

Minha essência e/ou meu corante não estão se misturando na minha parafina/cera?

Provavelmente você está usando os aditivos errados. Todos os produtos adicionados nas ceras e parafinas precisam ser oleosos, nunca alcoólicos e muito menos aquosos.

Posso usar somente cera de palma para produzir velas?

Sim, mas saiba que a cera de palma é bem dura, tem cor forte, odor característico e depois de solidificada fica com uma aparência bem irregular.

Posso acrescentar especiarias e frutas na minha vela?

Canela em pau, cravo, arroz, laranja desidratada, flor de lavanda, rosas, chá verde, e outros semelhantes podem ser acrescentados à vela, desde que todos esses ingredientes sejam desidratados e estejam completamente secos, mas lembre-se; esta vela quando acesa poderá ficar com cheiro de queimado, caso algum pedacinho da especiaria/fruta entre em contato com o fogo.

Posso usar que tipos de óleos e gorduras na confecção das velas? 

Você pode usar praticamente todas as gorduras saturadas e as gorduras insaturadas extraídas tanto de origem animal quanto vegetal. (Óleo e gordura de coco, manteiga de cacau, manteiga de cupuaçu, óleo da semente de uva, óleo de damasco, óleo de abacate, óleo de arroz, e até azeite de oliva, ou qualquer outro óleo/gordura).

Porém, cuidado na quantidade usada de óleos, quanto mais gordura insaturada utilizada, (ou seja, quanto mais gordura líquida empregada), mais chance da queima da sua vela ser por “combustão incompleta“, causando assim muita fumaça preta durante a queima.

Preciso usar óleos e gorduras para produzir uma vela? 

Não precisa usar óleo nenhum se você não quiser, inclusive, a essência já é oleosa. Este óleo “a mais” é só para fixar melhor a essência, serve para baratear o custo da vela, garantir uma queima com ponto de fusão mais baixo e exalar bem o seu perfume.

As gorduras saturadas se apresentam em estado sólido: Manteigas de coco, manteiga de leite, banha, gordura de palma, manteiga de cacau e outras. Essas gorduras são mais estáveis e menos oxidável e muitas delas podem ser aquecidas à temperaturas altíssimas que não se modificam e conseguem voltar ao seu estado sólido em temperatura ambiente.

A gordura insaturada se apresenta em estado líquido: Em sua maioria de origem vegetal; óleos de milho, soja, algodão, girassol, arroz, azeite, semente de uva e etc. Todas estas gorduras quando aquecidas se SATURAM, mudam e transformam suas cadeias químicas, e algumas quando aquecidas em excesso se modificam fisicamente, alterando sua cor e odor.

O que você deve levar em conta:

Absolutamente todos os óleos líquidos quando aquecidos saturam, o que muda é só a temperatura em que isso acontece.

Todos os óleos e gorduras possuem cheiro, alguns mais que outros (o exemplo mais comum é o azeite), ou seja, eles podem mascarar a fragrância da sua essência.

Alguns óleos e gorduras possuem cor, do branco ao amarelo, rosado e esverdeado, e esta cor deve ser levada em conta. Alguns óleos tem cor tão forte que chegam a alterar a cor do produto misturado aos corantes.

Como saber o ponto de fusão de uma vela?

O ponto de fusão designa a temperatura a qual uma substância passa do estado sólido ao estado líquido.

Quando você for fazer a vela, terá que derreter a cera, certo? Então, ela precisará estar completamente em estado líquido para poder ser misturada aos outros ingredientes como; essências, corantes, outros tipos de ceras, etc.

Na hora de acender a vela já pronta e confeccionada por você, há de se lembrar que cada uma das ceras que você usou tem um ponto de fusão diferentes, porém, quando elas forem combinadas, “ganharão” um novo ponto de fusão, quase como um híbrido entre 35°C à 57°C, (exemplo da fusão da cera de coco com a de palma), e a temperatura irá depender do quanto em proporção que você usará para fazer a vela. Você irá observar que velas feitas com mais cera de coco e menos cera de palma tendem a derreter muito mais rápido do que velas com mais cera de palma e menos cera de coco.

A temperatura do ponto de fusão não é a mesma temperatura em que a vela começa a amolecer, e também não é a mesma em que ela se torna completamente inflamável.

Preciso derreter minha cera no banho-Maria?

Precisar não precisa, mas o banho-Maria é o jeito mais seguro de controlar a temperatura do derretimento. Se quiser ter mais precisão ainda, use um termômetro.

Quanto tempo leva para a parafina/cera derreter completamente?

Depende da quantidade e do produto, mas geralmente, 1kg de cera ou parafina levam de 20 á 30 minutos para estarem completamente derretidas no processo do banho-Maria.

Preciso usar ilhós para produzir velas?

O ilhós não serve apenas para estabilizar o pavio, ele serve também como barreira entre o pavio e a cera no fundo do vidro.
Ele é muito importante para velas feitas em vidro pois evita que o mesmo rache ou exploda devido ao calor da queima do pavio quando a vela chega ao final do pote.
Ele previne possíveis incêndios, então o mais correto é usá-los.


Perguntas pessoais

Onde você aprendeu e quando você começou a produzir velas?

Quando eu ainda era criança, minha mãe começou a produzir velas por hobby. E eu sempre quis ajudá-la. Foi aí que aprendi um pouco. Depois de já estar morando sozinha, voltei a me interessar por velas e querer produzir minhas próprias. Minhas velas são totalmente artesanais e não as faço com intensão de venda.

Você tem um curso para indicar?

Não. Desconheço qualquer curso desta área.

Você estudou química?

Não. Minha formação é em Design de Moda. Eu sou uma eterna curiosa e pesquiso muito sobre as coisas que gosto. Meus conhecimentos são pela tentativa e erro. Então tudo que sei, aprendi lendo artigos e pesquisando.


Estes são alguns dos questionamentos que recebo com muita frequência, então espero que possam esclarecer suas dúvidas.

:), Carla.

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